domingo, 27 de setembro de 2015

Inversão de Valores


  

     A época em que estamos vivendo é crítica. É uma época, na qual as pessoas estão perdendo completamente a noção daquilo que realmente é importante.  Essa geração, da qual fazemos parte, tem feito muitas escolhas erradas. Por que afirmo isso? Porque a nossa geração prioriza as coisas que têm menos valor, ou até ás que não tem valor algum, em detrimento, das que deveriam ser valorizadas. Qual é a conclusão que se pode chegar? Há uma inversão de valores no mundo.  Aquilo que deveria ser mais importante está sendo substituído por coisas passageiras e supérfluas. Isso demonstra como nos tornamos superficiais. Mas o que a igreja tem a ver com esse assunto? Qual tem sido o nosso papel nesse contexto? A bíblia nos ensina a não nos amoldarmos a este mundo, isto é, a não tomarmos a forma dele, a não nos parecermos com ele, e nem nos deixarmos influenciar por seus pensamentos. Porém, o quadro que descrevi acima está sendo visto dentro da igreja. A igreja está sendo influenciada por esta inversão de valores.

        Há pelo menos cinco evidências da inversão de valores dentro da igreja:

      

     1-A busca e apego ás riquezas.

     

      Infelizmente este tem sido o foco da maioria das igrejas contemporâneas, principalmente no Brasil. O que contraria o que Jesus disse em Mateus 6.33: “Mas buscai em primeiro lugar o reino de Deus e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas”. Porém, o que vemos hoje é essa ordem sendo invertida. Muitos crentes estão buscando as coisas e o reino desse mundo em primeiro lugar, e caso sobre algum tempo então buscam o reino de Deus. Isso é uma clara inversão de valores, pois as coisas materiais estão assumindo o lugar das espirituais. É só nos atentarmos para o que diz Mateus 6.19-20 onde o Senhor nos aconselha da seguinte forma: “Não ajunteis tesouros na terra, onde a traça e a ferrugem tudo consomem, e onde os ladrões minam e roubam. Mas ajuntai tesouros no céu, onde nem a traça e nem a ferrugem consomem, e onde os ladrões não minam e roubam”. Não estou me baseando nesses textos para dizer que não podemos possuir dinheiro e bens materiais, e sim que estas coisas não podem ser prioridade na nossa vida. Nenhum bem, ou posse pode nos controlar, e nem assumir o primeiro lugar no nosso coração. O que se discute não é ás coisas que possuímos, e sim o lugar que elas ocupam na nossa vida. Qual é o lugar que as coisas que você possui ocupam na sua vida? Não podemos nos apegar ao que é material. O apóstolo Paulo nos afirma que o amor ao dinheiro é a raiz de todos os males. O nosso foco principal deve ser proclamar o reino de Deus e a sua justiça. De que forma você deseja ser reconhecido, pelo o que você possui ou pelo o que você é? Por alguém que tem muitos bens, ou por alguém de caráter e que faz a vontade de Deus? A verdadeira identidade do cristão é o amor. Quem disse isso? Jesus.  Nisto todos conhecerão que sois meus discípulos, se vos amardes uns aos outros”. (João 13.35) Nós não seremos conhecidos como discípulos de Jesus por causa da nossa conta bancária, ou por causa do carro do ano na garagem, e sim por amar uns aos outros. Não é por acaso que o maior mandamento é o amor. Amar a Deus acima de todas as coisas e ao próximo como a si mesmo. Quando entrei na igreja pela primeira vez, houve duas coisas que me impressionaram. A primeira coisa foi o amor de Deus, eu nunca havia experimentado algo tão maravilhoso quanto o seu amor, a voz de Deus dizendo que me amava soou tão forte em meu coração, que naquele dia, eu tive a certeza que jamais viveria novamente sem a sua presença. A segunda coisa que me chamou a atenção foi o amor que vi entre os irmãos, o partilhar, a comunhão, o cuidado. Porque de onde vim não havia presenciado isso. E sentir e ver esse amor em cada gesto me cativou, eu penso que é disso que a igreja precisa hoje. Talvez seja isso que ela tenha perdido e que precisa resgatar. Não precisamos de mega templos, de som de última geração ou coisas parecidas, ainda que tais coisas sejam necessárias e úteis, ainda que tenham o seu lugar, no entanto, elas são e sempre serão secundárias. O que nós temos que buscar é a presença de Deus, e o amor que tem estado cada vez mais extinto no meio do povo de Deus.

     

     2- O Material e o passageiro substituíram o espiritual e o eterno.

     

     As igrejas modernas têm gerado uma multidão de crentes imediatistas, são os seguidores do evangelho do “aqui e agora”. Destes ouvimos o seguinte discurso: “Eu quero, é meu, me dá agora”. Entretanto, tais pensamentos e conduta são o inverso do que diz Paulo em 2 Coríntios 4.18: “Não atentando nós nas coisas que se veêm, mas nas que se não veêm; porque as que se veêm são temporais, e as que se não veêm são eternas”.

     Existem muitas igrejas espalhadas pela terra, ás quais os templos estão lotados, não cabe mais ninguém. Contudo, a grande maioria das pessoas não foi atraída pelo evangelho da cruz, mas sim pelo evangelho das facilidades. Elas não cogitam uma vida de sacrifícios, pois estão apenas interessadas nos benefícios, não estão inclinadas a perder, e sim ganhar a qualquer custo, (marcos 8.35-36). São crentes interesseiros e terrenos, que só conseguem pensar no aqui e agora, ignorando as coisas espirituais e eternas. Essa é a realidade da igreja, queremos que Deus nos dê tudo do bom e do melhor de imediato, não queremos esperar. Não sabemos mais orar e aguardar no Senhor, desejando que a sua vontade seja feita. Estamos preocupados demais com os assuntos desta terra. Mas o apóstolo Paulo escreveu aos Romanos dizendo: “Se esperamos em Cristo só nesta vida, somos os mais miseráveis de todos os homens”. (1º Coríntios 15.19). A nossa esperança não pode está resumida somente as coisas desta terra, temos uma esperança maior. “O mistério que esteve oculto desde todos os séculos, e em todas as gerações, e que agora foi manifestado aos seus santos; aos quais Deus quis fazer conhecer quais são as riquezas da glória deste mistério entre os gentios, que é Cristo em vós, esperança da glória; ”(Colossenses 1.26-27).

     O Cristo que habita em nós, nos dá uma esperança superior a qualquer coisa que almejamos possuir nesta terra. A esperança de um dia estar na glória com Ele. Mas infelizmente, a igreja está deixando de ser a coluna e firmeza da verdade, está deixando de proclamar essa palavra transformadora para se tornar num balcão de negócios. Temos a rosa ungida, o sal grosso, a água santa, a pedra que veio de Israel, e tantos outros elementos estranhos. Os princípios eternos da palavra de Deus estão sendo removidos, em razão de várias estratégias utilizadas para atrair as pessoas, sob a justificativa de que tais coisas ajudam a ativar a fé dos ouvintes. Que evangelho é este que estamos anunciando? Cristo não é mais suficiente? “Porque nada me propus saber entre vós, senão a Jesus Cristo, e este crucificado.” (1 coríntios 2.2). Nós não precisamos de nada superficial, não precisamos de subterfúgios para atrair as pessoas. O que nós temos que fazer é anunciar a Jesus, é falar do seu sacrifício na cruz, a fim de salvar o Homem do pecado que provoca a ira de Deus. Cristo é suficiente, Ele basta. Quando apresentarmos o filho de Deus ao mundo, as pessoas ouvirão, se renderão e permanecerão em Jesus.

     

     3- O Evangelho centralizado nas necessidades humanas e não em Cristo.

     

     “ Portanto Dele, por Ele e para Ele são todas as coisas. A Ele seja a glória perpetuamente!Amém. (Romanos 11.36)

     O culto não pode ser antropólogo, isto é, voltado para Homem e suas necessidades. Ao contrário disso, ele precisa ser cristocêntrico, que significa Cristo como centro de todas as coisas. Hoje a mensagem mais comum que se ouve é: “venha ver o que Jesus pode fazer por você, mas antes de tudo, deveria ser, venha ver quem é Jesus, venha conhecê-lo, venha ter um relacionamento com Ele”. E quando isso acontecer ás pessoas irão querer se parecer com Ele. Muitos líderes têm ensinado as pessoas a correrem atrás das bênçãos, quando deveriam incentivá-las a ter intimidade com aquele que tem o poder de abençoar. “E chegando ás partes da cesaréia de Filipe, interrogou os seus discípulos dizendo: quem dizem os homens ser o filho do homem? (Mateus 16.13) Sabe o que Jesus estava perguntando aos seus discípulos? Eles sabem de fato quem eu sou? Ou pensam que sou apenas um milagreiro, um curandeiro, alguém que pode solucionar os seus problemas terrenos? Para Jesus não importa o quanto somos capazes de sugar dele, e sim qual a visão que possuímos a respeito dele. O que Ele quer saber é se o conhecemos.  Você sabe quem é Jesus? Você o conhece na intimidade? Já teve um encontro real com Ele? “Disse-lhe Natanael : pode vir alguma coisa boa de Nazaré? Disse-lhe Filipe: Vem, e vê. (João 1.46) Venha vê quem é Jesus, venha conhecê-lo, eu lhe garanto que você nunca mais irá deixá-lo, pois Ele é tudo o que necessitamos de verdade.

    

     4-Estamos amando as coisas e usando as pessoas.

     

     Estamos tratando as coisas como se fossem pessoas, e tratando as pessoas como se fossem coisas. Muitas vezes, estamos tendo mais cuidado com os objetos que possuímos, do que com as pessoas que estão a nossa volta. Há homens que passam horas e horas alisando o carro na garagem, mas não fazem um carinho sequer nas esposas, não dão atenção merecida aos seus filhos. Essa é uma característica da geração do descartável. Hoje em dia tudo é descartável, as coisas têm prazo de validade. No tempo dos nossos avós e até dos nossos pais, se usava fraldas de pano. O varal ficava repleto de fraldas, imagine o trabalho que dava lavar e secar aquilo tudo. Hoje em dia tudo é descartável, inclusive as fraldas. Só que nós estamos tão acostumados com essa cultura, levamos isso tão a sério, que estamos descartando até mesmo as pessoas. Ás quais deveríamos amar e cuidar, ás quais deveríamos proteger, ajudar e abraçar. Um exemplo claro do que estou falando é a moda do “ficar”, que nada mais é do que usar as pessoas e jogar fora. E quem não concorda com isso é rotulado de careta, ficar é moderno, é legal, mas a igreja de Cristo não pode seguir os padrões desse mundo, não se pode confundir modernismo com mundanismo. Ser moderno é uma coisa, ser mundano é outra totalmente diferente. A tecnologia está atrelada ao nosso dia a dia, temos bíblia no celular, no tablet, no computador, mas não podemos perder a essência. O que é perder a essência? É ter as coisas por ter, por vaidade, por modismo, é fazer porque todo mundo faz. Paulo disse: “todas as coisas me são lícitas, mas nem todas as coisas me convém...”(1 coríntios 10.23).

    

     Na igreja temos liberdade para fazermos o que quisermos, mas não podemos usar a nossa liberdade para dar ocasião a nossa carne, senão vira libertinagem, vira pecado. (Gálatas 5.13). O que estamos fazendo com a liberdade que temos em Cristo? Estamos nos tornando servos da nossa carne? Ou estamos servindo uns aos outros em amor? Estamos amando as pessoas? Estamos cuidando delas? Estamos protegendo-as? Ou estamos apenas usando-as e descartando? Temos que refletir muito sobre isso.

     

     5-A disputa de egos assumiu o lugar da unidade.

     

     Essa é mais uma evidência de que os valores estão sendo invertidos. Temos presenciado líderes evangélicos trocando acusações e se agredindo verbalmente em rede nacional, em redes sociais, na internet, isso é quebrar a unidade do corpo de Cristo, é causar escândalos e trazer prejuízos incalculáveis ao evangelho. Na oração sacerdotal Jesus orou assim: “não rogo somente por estes, mas também por aqueles que pela sua palavra hão de crer em mim, para que todos sejam um, como tu ó pai, o és em mim, e eu em ti; que também eles sejam um em nós, para que o mundo creia que tu me enviaste. (João 17.20-21) O que ardia no coração de Jesus quando Ele fez essa oração, era o desejo de que a igreja vivesse em unidade, e que mesmo havendo diferenças, todos fossem um em Cristo. Qual era o propósito dessa unidade? Para que o mundo creia em Jesus como o salvador enviado por Deus. Em outras palavras há uma possibilidade muito maior do mundo crer em Jesus através da unidade da sua igreja. Quando formos um, manifestaremos a glória do Senhor. Ao contrário disso, o que vemos é uma igreja querendo ser maior do que a outra, contradizendo o que diz Lucas 22.26: “Mas não sereis vós assim; antes o maior entre vós seja como o menor; e quem governa como quem serve”.

     De onde provém esse desejo de um irmão querer ser  maior do que o outro? De onde provém essa disputa? O que leva líderes a agir como se a sua denominação fosse melhor do que a outra? O que leva ministérios a pensar que somente eles são usados por Deus? Não é outra coisa senão o egocentrismo. É o oposto do que Jesus praticou e ensinou. Ele nos ensinou a servir uns aos outros, a amar o nosso próximo e considerá-lo superior a nós. Mas o que se nota é um tentando impedir o crescimento do outro, passando por cima do que diz Filipenses 1.18 : “ mas que importa? Contanto que Cristo seja anunciado de toda maneira, ou com fingimento ou em verdade, nisto me regozijo, e me regozijarei ainda”.

     O importante é o verdadeiro evangelho ser anunciado, levando a salvação de Cristo aos pecadores. No entanto, o que vemos hoje são denominações mais preocupadas em difamar as outras, do que pregar Jesus Cristo. O que vemos são ministérios tentando conter o avanço de outros, quando deveriam dar as mãos e atuarem juntos para alcançar os perdidos. O mundo tem assistido de camarote essa disputa de egos, a qual é uma vergonha para igreja. Um líder acusando o outro de ser falso. Vejamos o que Lucas 9. 49-50 diz: ” E, respondendo João, disse: mestre vimos um que em teu nome expulsava os demônios, e lho proibimos, porque não te segue conosco. E Jesus lhe disse: não o proibais, porque quem não é contra nós é por nós”. O que aprendemos com essa passagem? Nenhuma igreja possui o monopólio do evangelho, nenhum ministério detém o direito de pregar o evangelho como se fosse o único autêntico, e o único que tivesse autoridade para isso. O evangelho é de Cristo. Nós somos os seus representantes, mas Ele não nos deu a autoridade de dizer quem pode e quem não pode pregar, nem de achar que outro não pode fazer a obra de Deus só porque não pertence ao nosso grupo. Desde que não firam nenhum dos fundamentos essenciais da palavra de Deus, as discrepâncias que há entre nós, não deveriam nos separar. Porém, os interesses pessoais, a soberba e a vaidade têm comprometido a unidade da igreja.

      Qual o resultado disso tudo que nós abordamos? A verdade é que esse evangelho distorcido que tem sido pregado, o qual é materialista, imediatista, centralizado no homem, que valoriza mais as coisas do que as pessoas e sacrifica a unidade no altar do egocentrismo, pode produzir multidões, mas não é capaz de gerar discípulos. Ou seja, os templos estão cheios de pessoas, porém, vazios da glória de Deus. Qual a diferença entre multidão e discípulos? A multidão é superficial, ela não consegue se envolver com Jesus, ela não tem intimidade, segue Jesus de longe. A multidão só acena para Cristo, mas não se aproxima dele, não se submete ao seu senhorio, ela está apenas interessada no que Ele pode lhe proporcionar. Ao contrário dos discípulos, eles têm intimidade, se relacionam com Jesus, andam com o mestre e aprendem aos seus pés.

      A multidão tem visão distorcida, ela não sabe quem de fato é Jesus. Por isso, Jesus certa vez perguntou aos seus discípulos: “...Quem dizem os homens que eu sou?” E eles o responderam: João o Batista, mas outros: Elias; mas outros: um dos profetas.(Marcos 8.27-28) Isso demonstra que o povo não sabia quem era Jesus, a sua visão era limitada e distorcida. O filho de Deus, o Messias esperado estava ali diante deles, mas eles não conseguiam ver por causa da religiosidade. Diferente dos discípulos.  Jesus perguntou: “mas vós quem dizeis que eu sou? E, respondendo Pedro lhe disse: Tu és o Cristo.”(Marcos 8.29). O verdadeiro discípulo sabe quem é Jesus, conhece a Jesus, tem uma visão correta de Jesus, pois recebeu essa revelação do Espírito Santo.

      A multidão é formada de consumidores, pessoas que fazem da igreja um “shopping espiritual”, onde consomem o que precisam, onde buscam o que querem, mas nada produzem para o reino de Deus. Vendo, pois, a multidão que Jesus não estava ali nem os seus discípulos, entraram eles também nos barcos, e foram a Cafarnaum, em  busca de Jesus. E, achando-o do outro lado do mar, disseram-lhe: Rabi, quando chegaste aqui? Jesus respondeu-lhes e disse: na verdade vos digo que me buscais, não pelos sinais que vistes, mas porque vos comestes do pão e vos saciastes.” (João 6.24-26). O que Jesus estava dizendo para a multidão? Vocês estão me buscando apenas interessados no que eu posso lhes dar, estão me procurando só por causa dos pães, mas eu quero que vocês saibam que eu tenho uma comida melhor para lhes oferecer, uma comida que não perece, pois veio do céu e quem dela se alimentar terá a vida eterna.  Venham e comam de mim Eu sou o pão da vida que desceu do céu. O verdadeiro discípulo sabe disso. É por isso, que ele não está ali só para consumir o que Cristo tem a oferecer, ele está ali para produzir no reino de Deus, para trabalhar, a fim de que o nome do Senhor seja engrandecido e glorificado para que vidas o conheçam. O discípulo sabe o que está o aguardando no céu, e que não se compara a nada dessa terra, é uma coroa incorruptível. A multidão não sabe distinguir isso, só os verdadeiros discípulos conseguem compreender.

      A qual dessas classes você pertence :  Multidão ou discípulos?  Se você tem vivido uma vida superficial, e não tem se envolvido com Cristo, então você não é um discípulo, você é apenas multidão. Se você até hoje não sabe quem Jesus é, e qual o lugar dele na sua vida, então você faz parte da multidão. E se você tem buscado Jesus apenas para consumir o que Ele tem para proporcionar, então você não é discípulo, é apenas mais um na multidão. Pense nisso.

 

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